Selecionada entre as 10 finalistas da segunda edição do concurso “De Olhos para o Futuro”, a Liga Acadêmica de Oftalmologia (LAOF) da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL) – Tubarão (SC) conquistou o segundo lugar na premiação. Com o apoio dos retinógrafos portáteis Eyer, da inteligência artificial EyerMaps e do sistema em nuvem EyerCloud, a equipe desenvolveu um projeto que ampliou o acesso ao diagnóstico oftalmológico em comunidades vulneráveis.
A premiação, promovida pela Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Oftalmologia (ABLAO) em parceria com a Phelcom Technologies e o apoio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), aconteceu em 20 de fevereiro, durante o Simpósio Internacional Moacyr Álvaro (Simasp), em São Paulo.
Parte da equipe da LAOF durante premiação da segunda edição do concurso “De Olhos para o Futuro”.
Com o tema “Prevalência e Rastreio da Retinopatia Diabética em Pacientes Diabéticos da Rede Pública de Tubarão (SC): Um Estudo Transversal com Uso de Retinografia”, o principal objetivo dos alunos foi analisar a prevalência da retinopatia diabética entre os pacientes atendidos pelo SUS, além de implementar ações educativas e estabelecer um protocolo de acompanhamento contínuo, com foco no controle glicêmico e no monitoramento da doença.
Para viabilizar o mutirão, os ligantes promoveram um curso sobre diabetes, retinopatia diabética e como usar o Eyer na prática, oferecendo uma taxa de inscrição acessível. A equipe também entrou em contato com pacientes por meio da lista fornecida pela Secretaria de Saúde de Tubarão (SC) e realizou campanhas nas rádios locais para divulgar a ação.
“Ligamos para cada um individualmente, convidando-os para a triagem. No início, muitos ficaram desconfiados, achando que era um golpe, já que não é comum receber uma ligação oferecendo um exame de retina gratuito. Foi um desafio, mas, à medida que compreendiam a proposta e percebiam a seriedade do projeto, a confiança surgia. Muitos, inclusive, passaram a ajudar na divulgação para outras pessoas”, relembra o presidente da liga, Matheus Oliveira.
Antes do evento, os acadêmicos visitaram a Associação Tubaronense de Assistência aos Diabéticos e Hipertensos (ATADH) para convidar os pacientes associados. “No entanto, fomos surpreendidos com um convite da própria associação para ministrar uma palestra no evento em comemoração ao Dia Mundial do Diabetes, em 14 de novembro. Durante a ocasião, além da palestra, também realizamos exames de retinografia, ampliando o impacto do projeto”, conta.
Para viabilizar o projeto, a LAOF promoveu um curso sobre diabetes, retinopatia diabética e como usar o Eyer na prática.
Além do mutirão realizado em parceria com a Secretaria de Saúde de Tubarão (SC), a equipe promoveu outra ação na Universidade do Sul de Santa Catarina (Campus Tubarão), onde foram atendidos 190 pacientes diabéticos. Para aqueles que não puderam comparecer, consultas com oftalmologistas foram agendadas posteriormente.
A divulgação do projeto nas rádios da região gerou novas oportunidades de impacto social. A liga foi convidada a levar a ação ao Presídio Regional de Tubarão. “Essa experiência foi extremamente enriquecedora, oferecendo uma nova perspectiva sobre a aplicação do nosso trabalho em diferentes contextos sociais”, afirma Oliveira.
Após essa iniciativa, surgiu um novo convite para levar o projeto ao Abrigo dos Velhinhos, ampliando ainda mais o alcance da ação.
Resultados
Ao todo, 313 pacientes foram atendidos. Desses:
- 18,21% apresentavam retinopatia diabética (RD) em um ou ambos os olhos;
- 14,38% tinham RD leve a moderada;
- 3,83% foram diagnosticados com RD grave;
- 1,92% apresentavam RD de alto risco;
- 54,10% dos pacientes com RD também tinham edema macular diabético (EMD), representando 10,54% do total de atendimentos.
Além da RD, outras doenças oculares também foram identificadas, como catarata, glaucoma e degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
Sobre o perfil dos pacientes, 86,58% tinham diabetes tipo 2 e 13,42% tinham diabetes tipo 1.
Um dos impactos mais significativos do projeto foi a priorização de pacientes no SUS. “Alguns já estavam na fila de espera para uma consulta com o oftalmologista. Mas, após a identificação de alterações nos exames, passaram a ser classificados como casos urgentes, acelerando o atendimento e o início do tratamento”, explica o presidente.
A detecção precoce da retinopatia diabética (RD) é fundamental para evitar a progressão da doença e prevenir casos de cegueira evitável. No projeto desenvolvido pela LAOF, o uso do Eyer foi decisivo para viabilizar o rastreamento em larga escala.
“O Eyer permitiu realizar exames de retina de forma muito mais prática e acessível, inclusive em locais onde o uso de equipamentos tradicionais seria inviável, como no presídio e no Abrigo dos Velhinhos. Isso ampliou significativamente nosso alcance e possibilitou um atendimento de qualidade para populações que, normalmente, têm pouco acesso a esse tipo de exame”.
Além disso, o EyerMaps teve um papel importante na identificação de possíveis alterações e no aprendizado dos alunos. “Começamos a enxergar a retina de outra forma, identificando detalhes e possíveis alterações que antes poderiam passar despercebidos. Isso despertou ainda mais curiosidade e vontade de aprender. Em alguns casos, encontramos alterações que nunca imaginaríamos ver, como cicatrizes oculares causadas por toxoplasmose”, comenta Oliveira.
Já o EyerCloud foi essencial para armazenar e compartilhar os exames com especialistas, agilizando diagnósticos e encaminhamentos. “Com essa tecnologia, conseguimos oferecer um retorno muito mais rápido e eficiente. No geral, essas ferramentas tornaram nossas ações mais organizadas e resolutivas.”
Continuidade
Agora, a LAOF pretende dar continuidade ao projeto, expandindo o rastreamento da retinopatia diabética e de outras doenças oculares graves em Tubarão (SC).
“Também estamos planejando parcerias com outros projetos de extensão e secretarias de saúde para integrar essas triagens a campanhas maiores, alcançando ainda mais pessoas. Além disso, pretendemos utilizar o Eyer em pesquisas acadêmicas, levantando dados sobre a prevalência de doenças oculares na região e contribuindo para a produção científica da faculdade”, fala.
Embora a Universidade do Sul de Santa Catarina (Campus Tubarão) ainda não tenha um ambulatório especializado em oftalmologia, Oliveira acredita que o projeto pode abrir caminho para que a instituição se torne um polo estratégico no rastreamento ocular.
“A integração com o ambulatório universitário, aliada ao envolvimento dos alunos de Medicina e da LAOF, permitirá a realização de triagens regulares e o acompanhamento dos pacientes. Além disso, a parceria com a Secretaria de Saúde viabilizará a inclusão do rastreamento ocular nas políticas públicas locais, tornando essa iniciativa uma prática contínua e de grande impacto social”, destaca Oliveira.
Após a premiação do projeto, a liga organizou um novo curso, aprimorando ainda mais a formação dos acadêmicos. “Mantivemos a parte prática com o Eyer, dando aos participantes a oportunidade de aprofundar o conhecimento no uso do equipamento e na análise das imagens capturadas. Desta vez, também incluímos uma palestra sobre emergências oftalmológicas, abordando temas como traumas oculares, glaucoma agudo e endoftalmite — situações críticas que médicos generalistas e emergencistas podem encontrar no plantão”, conta.
Com a experiência adquirida e o Eyer como uma ferramenta fixa, a liga pretende seguir oferecendo novas edições dos cursos, tornando-os ainda mais completos.
Equipe da LAOF durante projeto do concurso De Olhos para o Futuro.
Eyer
O Eyer é um retinógrafo portátil que funciona acoplado a um smartphone e realiza exames de retina de alta qualidade, em poucos minutos e sem a necessidade de dilatação da pupila.
A tecnologia apoia no diagnóstico de mais de 50 doenças, dentre elas glaucoma, catarata, retinopatia diabética, DMRI, retinoblastoma, retinopatia hipertensiva, retinopatia da prematuridade e toxoplasmose ocular.
Recentemente, chegou ao mercado o Eyer2 com novas ferramentas embarcadas e funcionalidades aprimoradas. O equipamento possibilita a detecção de diversas doenças e condições do segmento anterior do olho, como blefarite e demais alterações de cílios, disfunção das glândulas meibomianas, hordéolos, tumores conjuntivais, tumores palpebrais, catarata avançada, corpo estranho, queimaduras, lesões na córnea e ceratites em geral causadas por olho seco, lente de contato, infecções e úlceras, dentre outros.
Sobre a Phelcom
A Phelcom Technologies é uma medtech brasileira sediada em São Carlos, interior de São Paulo. A história da empresa começou em 2016, quando três jovens pesquisadores – um físico, um engenheiro eletrônico e um engenheiro de computação (PHysics, ELetronics, COMputing) – criaram um retinógrafo portátil integrado a um smartphone.
O primeiro protótipo da Phelcom foi inspirado pela experiência pessoal de um dos sócios, Diego Lencione, cujo irmão enfrentou uma grave condição que comprometeu severamente sua visão desde a infância.
Em 2019, a Phelcom lançou no mercado brasileiro o seu primeiro produto: o retinógrafo portátil Eyer. Cinco anos depois, lançou o Eyer2, uma plataforma de exames visuais que permite realizar registros dos segmentos posterior e anterior com alta qualidade de imagem.
Atualmente, a tecnologia da Phelcom já beneficiou mais de duas milhões de pessoas no Brasil e em diversos países, como Estados Unidos, Japão, Chile, Colômbia e Emirados Árabes, sendo utilizada também em mais de 100 ações sociais.