Desde 2024, a oftalmologista Vanessa de Almeida Barbieri lidera um ambicioso projeto de rastreamento de retinopatia diabética (RD) nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Campo Grande (MS) utilizando telemedicina e inteligência artificial.
Em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SESAU), o projeto promove mutirões para realizar exames do fundo do olho com o Eyer, um retinógrafo portátil que funciona acoplado a um smartphone e gera imagens de alta qualidade da retina em poucos minutos, sem necessidade de dilatar a pupila.
O equipamento integra a inteligência artificial EyerMaps, capaz de identificar possíveis anomalias na retina em segundos, e se conecta à plataforma online EyerCloud, permitindo que os exames sejam analisados remotamente por especialistas.
A retinografia, um dos exames mais eficazes para detectar manifestações do diabetes, possibilita a identificação das lesões oculares decorrentes da retinopatia diabética – uma das complicações mais frequentes da doença, que pode levar à perda de visão se não for tratada adequadamente.
Até o momento, a equipe já percorreu 36 UBS e atendeu 3,6 mil pacientes. Apenas em novembro, mês de intensificação das ações de combate ao diabetes, os mutirões ocorreram em 24 unidades, atendendo 1,6 mil pessoas.
Exame de fundo de olho realizado com o Eyer durante mutirão em UBS de Campo Grande (MS).
Ao todo, 358 pacientes foram diagnosticados com retinopatia diabética e encaminhados para tratamento no Hospital São Julião, referência na capital. Além disso, o Eyer possibilitou a detecção de outras condições, como glaucoma, nevus e degeneração macular relacionada à idade (DMRI).
“A SESAU indicou as UBS com os maiores números de pacientes diabéticos, permitindo que nossa equipe iniciasse os mutirões nas áreas de maior necessidade”, ressalta Barbieri.
Além dos exames oftalmológicos, a ação integrada ofereceu avaliações para a prevenção do pé diabético, cuidados com a saúde bucal, orientações nutricionais e consultas cardiológicas, proporcionando um atendimento multidisciplinar e abrangente à população.
Da ideia à prática
Parte da equipe durante mutirão de rastreamento de retinopatia diabética em UBS de Campo Grande (MS).
Barbieri conta que a iniciativa surgiu a partir de uma visita a um estande da Phelcom em um congresso. “Logo após a pandemia, eu buscava um aparelho mais versátil para utilizar na minha clínica, a princípio”, relembra a oftalmologista, que também atua no Hospital São Julião na área de diagnóstico e tratamento de RD há 25 anos.
No estande, o CEO da Phelcom, José Augusto Stuchi, explicou como o Eyer poderia facilitar o diagnóstico na prática clínica e relatou a experiência dos mutirões de diabetes com a tecnologia. “Stuchi me apresentou aos profissionais envolvidos nessas ações, como os oftalmologistas Fernando Malerbi e Rafael Andrade, o que me motivou a implementar essa abordagem em nossa cidade. Além disso, gostei muito do uso do equipamento na lâmpada de fenda do Eyer, que oferece uma visão mais direta e um campo menor, permitindo um estudo mais aprofundado do olho”, acrescenta.
Em 2023, a Phelcom emprestou alguns aparelhos e Barbieri liderou os primeiros mutirões utilizando telemedicina. Para avaliar os resultados, a equipe realizou um estudo comparativo entre os mutirões convencionais e aqueles baseados em telemedicina.
O estudo revelou que, enquanto 10 a 15% dos pacientes necessitam de acompanhamento especializado, os demais 85% podem ser monitorados regularmente nas UBS. “É impressionante que quase 100% dos casos identificados pelo EyerMaps batem com o laudo do especialista, confirmando a confiabilidade da tecnologia e alertando os pacientes para as complicações reais do diabetes”, analisa Barbieri.
Exame de fundo de olho realizado com o Eyer durante mutirão em UBS de Campo Grande (MS).
Retinografia no atendimento primário
No final do ano passado, a equipe do projeto contabilizou aproximadamente 2 mil pacientes no estado do Mato Grosso do Sul aguardando avaliação de complicações do diabetes no Hospital São Julião, a única referência especializada no estado. “Eles já passaram por exames nas UBS, no Centro de Especialidades Médicas (CEM), onde foram diagnosticados com alterações oculares, mas ainda aguardam o início do tratamento”, explica.
A proposta do projeto é transferir o exame de fundo de olho para as próprias UBS, permitindo que o diagnóstico seja realizado em um estágio inicial da retinopatia diabética. “Dessa forma, o paciente encaminhado para tratamento apresentará complicações menos avançadas, o que pode evitar intervenções mais invasivas, preservar a qualidade de vida, mantê-lo ativo no mercado de trabalho e prevenir consequências graves, como amputações e perda significativa da visão”, ressalta.
Além disso, a iniciativa prevê a capacitação contínua das equipes das UBS – incluindo estudantes de medicina e enfermagem – para que o exame seja realizado com a qualidade necessária desde o primeiro atendimento. “Essa abordagem não só agiliza o diagnóstico, mas também reduz os custos e o impacto das complicações associadas ao diabetes, promovendo uma transformação significativa na vida dos pacientes e na saúde pública”, conclui Barbieri.
Exame de fundo de olho realizado com o Eyer durante mutirão em UBS de Campo Grande (MS).
Eyer
O Eyer é um retinógrafo portátil que funciona acoplado a um smartphone e realiza exames de retina de alta qualidade, em poucos minutos e sem a necessidade de dilatação da pupila.
A tecnologia apoia no diagnóstico de mais de 50 doenças, dentre elas glaucoma, catarata, retinopatia diabética, DMRI, retinoblastoma, retinopatia hipertensiva, retinopatia da prematuridade e toxoplasmose ocular.
Recentemente, chegou ao mercado o Eyer2 com novas ferramentas embarcadas e funcionalidades aprimoradas. O equipamento possibilita a detecção de diversas doenças e condições do segmento anterior do olho, como blefarite e demais alterações de cílios, disfunção das glândulas meibomianas, hordéolos, tumores conjuntivais, tumores palpebrais, catarata avançada, corpo estranho, queimaduras, lesões na córnea e ceratites em geral causadas por olho seco, lente de contato, infecções e úlceras, dentre outros.
Sobre a Phelcom
A Phelcom Technologies é uma medtech brasileira sediada em São Carlos, interior de São Paulo. A história da empresa começou em 2016, quando três jovens pesquisadores – um físico, um engenheiro eletrônico e um engenheiro de computação (PHysics, ELetronics, COMputing) – criaram um retinógrafo portátil integrado a um smartphone.
O primeiro protótipo da Phelcom foi inspirado pela experiência pessoal de um dos sócios, Diego Lencione, cujo irmão enfrentou uma grave condição que comprometeu severamente sua visão desde a infância.
Em 2019, a Phelcom lançou no mercado brasileiro o seu primeiro produto: o retinógrafo portátil Eyer. Cinco anos depois, lançou o Eyer2, uma plataforma de exames visuais que permite realizar registros dos segmentos posterior e anterior com alta qualidade de imagem.
Atualmente, a tecnologia da Phelcom já beneficiou mais de duas milhões de pessoas no Brasil e em diversos países, como Estados Unidos, Japão, Chile, Colômbia e Emirados Árabes, sendo utilizada também em mais de 100 ações sociais.