Em 2019, o Co-Founder e COO da Phelcom Technologies, Flávio Pascoal Vieira, participou pela primeira vez do Mutirão do Diabetes de Itabuna, na Bahia. A empresa havia disponibilizado o retinógrafo portátil Eyer, recém-lançado no mercado, para os exames de retina dos pacientes.
O equipamento funciona acoplado a um smartphone e realiza exames de retina em poucos minutos, além de disponibilizar as fotografias na plataforma online EyerCloud, facilitando o diagnóstico remoto.
Ao chegar no mutirão, Vieira presenciou uma cena que não saiu mais da sua cabeça: em uma sala pequena, duas voluntárias estavam rodeadas de montanhas de papel. “Eram os prontuários dos pacientes. Elas passavam as informações dos arquivos, um por um, para uma planilha de Excel”, relembra.
Para se ter uma ideia, a International Diabetes Federation (IDF) classificou o Mutirão de Itabuna como um dos maiores eventos de prevenção e tratamento da doença no mundo. Aproximadamente 500 pessoas são atendidas por edição.
No ano seguinte, a mesma situação, mas com o agravo da pandemia de covid-19. Diante desse cenário, Vieira começou a pensar em formas de ajudar nesse processo. A primeira ação foi pré-preencher as fichas dos pacientes que já haviam participado de outras edições. Isso diminuiu o tempo necessário para a triagem.
Com a experiência e os aprendizados de quatro anos de ações realizadas, a equipe da Phelcom, em parceria com a ONG Unidos pelo Diabetes, organizadora do evento, desenvolveu um aplicativo para tornar digital toda a jornada do paciente no mutirão.
COO da Phelcom, Flávio Pascoal Vieira, e o presidente da ONG Unidos pelo Diabetes, Rafael Andrade, no Mutirão do Diabetes de Itabuna 2023.
O aplicativo
O aplicativo, batizado temporariamente de Gestão de Prontuário Eletrônico em Mutirões de Diabetes, foi utilizado pela primeira vez no Mutirão de Itabuna em 2023, que ocorreu em novembro.
Confira abaixo como funciona:
Triagem
Cadastro dos dados do paciente. Se ele participou de outras edições, a ficha já está pré-preenchida. Em seguida, o paciente ganha um crachá com QRCode para o exame de retinografia. “Isso economiza tempo, pois não é mais necessário digitar nome, idade e outros dados. Dessa forma, atende-se mais pessoas com o mesmo número de equipamentos”, explica Vieira.
Com Eyer, voluntário faz a leitura do QR Code com prontuário eletrônico da paciente.
Anamnese
Perguntas sobre saúde de modo geral, como prática de exercícios físicos, alimentação, tabagismo, comorbidades, se possui diabetes e há quanto tempo etc. “O cardiologista e o nefrologista não precisam mais perguntar sobre isso, por exemplo, pois as informações já estão preenchidas. Tudo o que puder ser automatizado libera os médicos para cuidar apenas da parte humana” ressalta Vieira.
Retinografia
Exame feito com o Eyer e com o uso da inteligência artificial EyerMaps, que detecta possíveis alterações retinianas em poucos minutos. Dois oftalmologistas, um presencial e outro remoto, confirmavam se a indicação da IA estava correta.
Imagem do aplicativo com perguntas sobre os resultados do exame de retinografia.
“A telemedicina com retinografia digital e inteligência artificial trouxe um grande diferencial na amplificação e agilidade na capacidade de atendimento com menor necessidade de recursos humanos especializados presentes. Isto vem mudando nossos mutirões, tornando-os cada vez melhores com a evolução exponencial da IA”, conta o presidente da ONG e coordenador do mutirão, Rafael Andrade.
Exame de fundo de olho feito com Eyer. No lado esquerdo, retina saudável. No lado direito, mapa de atenção gerado pela inteligência artificial EyerMaps indica possíveis alterações retinianas.
Exames adicionais
Caso o Eyer indique possíveis alterações na retina, o paciente é encaminhado para exames cardiológicos, dos rins e do pé diabético.
Imagem do aplicativo com perguntas para o exame de rim.
Orientações finais
No final da jornada, todos os pacientes recebiam orientações sobre os cuidados necessários e, os que apresentavam complicações da diabetes, como retinopatias e outros problemas, eram encaminhados para o tratamento adequado.
Imagem do aplicativo com resultados e orientações finais ao paciente.
Por meio do aplicativo, todos os dados clínicos coletados foram compilados por uma ficha digital inteligente adaptada ao fluxo multidisciplinar de avaliação da retina, cardíaca, renal e do pé diabético, construindo um banco de dados complexo em tempo real.
Mutirômetro
No mutirão de 2023, os dados coletados eram exibidos em tempo real no “mutirômetro”, um dashboard na televisão, que mostrava a quantidade de pessoas e o tempo médio de permanência em cada etapa de atendimento. Por exemplo, se a fila da cardiologia estava pequena e a da anamnese grande, os organizadores conseguiam remanejar a equipe rapidamente.
Mutirômetro exibiu dados coletados pelo aplicativo em tempo real.
O uso do aplicativo no Mutirão do Diabetes de Itabuna também permitiu:
- Economia no uso de papel;
- Diminuir falhas ao longo do processo, como assinalar opções erradas ou pular perguntas – o app não salva a ficha do paciente se estiver algum item sem preencher;
- Rastrear o paciente em cada etapa;
- Compilar os dados em poucas horas após o fim do mutirão. Antes, esse processo demorava entre três e quatro meses.
“Tudo isso agilizou muito o processo e permitiu fazer mais pacientes por hora”, ressalta Vieira.
Além do mutirão de Itabuna, as tecnologias foram utilizadas no mutirão de diabetes em Blumenau (SC), em dezembro. “Por terem a mesma jornada do paciente, foi fácil adaptarmos o aplicativo de um evento para o outro”, fala Vieira.
Resultados gerais, em tempo real, exibidos no mutirômetro no Mutirão do Diabetes de Blumenau.
Mutirômetro mostrava em tempo real a jornada do paciente.
Comorbidades detectadas durante o Mutirão do Diabetes de Blumenau.
Resultados dos exames de pé diabético realizados no mutirão.
Exames de rim realizados no mutirão.
Diretoria de Inovação
O aplicativo e o mutirômetro são as primeiras ferramentas da recém-criada Diretoria de Inovação da Phelcom. A nova diretoria da Phelcom é dividida em três pilares:
- Innovation for Phelcom – ferramentas feitas pela Phelcom para a Phelcom;
- Phelcom for Education – apoio para pesquisa e artigos acadêmicos;
- Phelcom Social – ações de saúde voltadas para a comunidade.
“A inovação faz parte do nosso DNA. Desde os primeiros meses, quando nos reunimos para criar um retinógrafo portátil que pudesse revolucionar a maneira como a saúde visual é acessada e tratada, sabíamos que estávamos embarcando em uma jornada de constante evolução e descoberta. E a Diretoria de Inovação é uma manifestação concreta desse compromisso”, afirma Vieira.
Sobre a Phelcom
A Phelcom Technologies é uma medtech brasileira sediada em São Carlos, interior de São Paulo. A história da empresa começou em 2016, quando três jovens pesquisadores – um físico, um engenheiro eletrônico e um engenheiro de computação (PHysics, ELetronics, COMputing) – criaram um retinógrafo portátil integrado a um smartphone.
O projeto do primeiro protótipo nasceu do interesse do sócio Diego Lencione pela saúde visual, pois seu irmão tem uma condição que comprometeu a retina e a visão de forma severa desde a infância.
Em 2019, a Phelcom lançou no mercado brasileiro o seu primeiro produto: o retinógrafo portátil Eyer, vencedor dos prêmios World Summit Award 2020 e Falling Walls Lab 2016.