De fato, o transplante lamelar de córnea não é uma técnica nova – a cirurgia surgiu em 1840. Porém, o procedimento passou a ser uma opção mais frequente entre os oftalmologistas há pouco tempo.
Isso porque a técnica apresentou grandes avanços nos últimos anos devido à evolução de pesquisas laboratoriais, diagnósticos eficazes da córnea, novos exames e a melhora constante do próprio método em si. Além disso, é uma cirurgia menos invasiva e com baixos riscos de complicações.
Além do mais, novos estudos e métodos estão em desenvolvimento. Como a utilização de interfaces aquosas para resolver as irregularidades da superfície da córnea devido ao laser e a diminuição ou até o fim da necessidade de doação e preservação do tecido corneano por bancos de olhos. Tudo isso deve garantir ainda mais a segurança e resultados melhores.
Portanto, veja neste post como é feito o transplante lamelar de córnea, as principais técnicas utilizadas, as possíveis complicações e as vantagens.
Transplante lamelar de córnea – como é feito
O transplante lamelar de córnea substitui as camadas anteriores da córnea, preservando as camadas internas, onde se encontra o endotélio. Atenção: esse procedimento é recomendado para doenças corneanas restritas ao estroma. Isto é: o endotélio precisa estar saudável.
Desse modo, é dividido em dois tipos:
Anterior
Remoção apenas do estroma corneano, mantendo a membrana de Descemet e o endotélio, que são as camadas mais profundas.
Posterior
Técnica mais recente e moderna em que o endotélio, camada mais profunda da córnea, é retirado e substituído por novo tecido saudável.
Dentre esses métodos, estão as técnicas Falk, Halk e Dalk. Em seguida, entenda como cada uma funciona:
Falk (Femtosecond Anterior Lamellar Keratoplasty)
Neste procedimento, é feito uma ceratoplastia anterior lamelar superficial (SALK) com laser de femtosegundo. Dessa forma, é produzido cortes transversais em substituição ao corte com trépano e a dissecção lamelar.
Assim sendo, ela retira opacidades encontradas nos 300 µm inicias do estroma da córnea. Vale ressaltar que os cortes realizados com o laser deixam irregularidades na superfície, o que pode atrapalhar o resultado final da cirurgia.
Halk (Hemi-Automatized Lamellar Keratoplasty)
Já para tratar embaciamento e cicatrizes mais profundas, a técnica híbrida HALK é a mais indicada. Para isso, ela utiliza o método ALTK com microcerátomo para elaborar a lamela doada e um procedimento manual com dissecção com uma crescente afiada. O objetivo é que a nova lamela supra de maneira bem próxima o estroma original.
Mas, em quadros de ceratocone, essa técnica não é indicada, pois pode prejudicar a qualidade da refração do paciente.
Dalk (Deep Anterior Lamellar Keratoplasty)
O DALK é indicado para os casos em que é necessário a substituição total do estroma, mas com a permanência do endotélio. Pode ser feito de diferentes formas, como com a ajuda de paquimetria, tomografia de coerência ótica (OCT), trepanação com trépano milimetrado ou com laser de femtosegundo.
Uma das possibilidades é a técnica de bombeamento de ar, que simplifica e aumenta a taxa de criação de grandes bolhas. Além disso, também foca na separação do estroma corneano doente da membrana de Descemet, o que evita rasgar a membrana de Descemet hospedeira.
Transplante lamelar de córnea – possíveis complicações
De fato, o transplante lamelar de córnea apresenta baixos riscos de complicações, ainda mais se comparado com o transplante de córnea permanente.
Em relação ao intraoperatório, os principais problemas que podem surgir são falha na formação do plano de dissecção, na técnica DALK, e perfurações. Por exemplo, em caso de não-formação, o médico precisará realizar a dissecção manual camada por camada.
Já sobre as possíveis perfurações, é necessário manter estável a câmara anterior nas situações de microperfurações. Entretanto, perfurações maiores carecem de conversão.
No caso de complicações pós-operatórias, as principais são a formação de dupla-câmara, na DALK, e problemas na interface, como haze, infecção e neovascularização. Com referência aos cuidados após a cirurgia, estão consultas frequentes para análise da pressão intraocular e exames para observar as suturas e possível neovascularização.
Transplante lamelar de córnea – vantagens
Sem dúvida, a minimização de riscos é a principal vantagem do transplante lamelar de córnea. Por exemplo, essa cirurgia preserva o endotélio. Dessa maneira, reduz episódios de rejeição. Mesmo em situações em que há recusa, não há falência secundária.
Há também sobrevida maior dos enxertos na técnica DALK. Até em casos de falência, não ocorreu queda das taxas de sobrevida dos retransplantes seguintes.
Além disso, impede complicações por conservar inteiros a câmara anterior e o ângulo camerular; tem a possibilidade de usar tecidos acelulares que podem ser criopreservados (ainda em fase de pesquisas); e utilizar a mesma córnea para dois procedimentos distintos (transplante lamelar anterior e DMEK/DSAEK/Isolamento de células do endotélio para estudos com cultivo).
Outro benefício desse método é poder ser empregado em situações de emergência, como úlceras infecciosas ou meltings que ainda não perfuraram. Desse modo, diminui risco de contiguidade da infecção, endoftalmite e sinéquias.
Teoricamente, existe a possibilidade de encerrar o uso de corticoides mais cedo, em alguns casos. Assim sendo, reduz alguns riscos como infecções, aumento da pressão intraocular e catarata corticogênica.
Com informações do artigo “Evolução dos transplantes lamelares de córnea”, publicado na revista Universo Visual, de autoria do médico oftalmologista Francisco Bandeira e Silva, especialista em córnea, doenças externas, catarata e cirurgia refrativa.
Conclusão
Agora, você conhece as principais técnicas utilizadas no transplante lamelar de córnea. Dentre elas, estão a Falk, Halk e Dalk. De fato, esse procedimento vem ganhando cada mais espaço entre os oftalmologistas devido aos baixos riscos que apresenta.
Além do mais, novas pesquisas mostram que o método só tende a se aperfeiçoar ainda mais.
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