Realidade virtual (RV) é um ambiente simulado por computador que proporciona efeitos visuais, sonoros e até táteis ao usuário. Dessa forma, permite a imersão completa no cenário virtual, como se a pessoa realmente estivesse presente ali. Para isso, utiliza tecnologias com displays estereoscópicos, como os populares headsets (óculos especiais que transmitem a simulação).
Por suas características, tem ganhado espaço em diversas áreas. Inclusive, na saúde.
Em seguida, veja como a realidade virtual na medicina auxilia no tratamento de diversas doenças, em treinamentos e até na melhora da qualidade de vida de idosos e deficientes físicos.
1. Realidade virtual na medicina – tratamentos
Dor
Imagine você em um local bonito, relaxante e divertido enquanto, ao mesmo tempo, passa por um tratamento extremamente doloroso? Especialistas verificaram que o uso da terapia da realidade virtual enche o cérebro com tanta informação que não deixa espaço para processar as sensações de dor na mesma hora.
Muito além de distração, a técnica oferece uma experiência multissensorial que envolve o paciente em um nível muito mais profundo do que assistir TV ou ler, por exemplo.
Um dos primeiros programas de RV é voltado para tratamento de queimaduras. O SnowWorld é um game que os pacientes jogam durante a limpeza dos ferimentos – procedimento altamente doloroso. É simples: os usuários jogam bolas de neves em pinguins. Contudo, tem apresentado resultados significativos. Foi desenvolvido pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
A terapia também é estudada para o momento do parto e no tratamento de doenças cardiológicas, neurológicas, gastrointestinais e crônicas. Além de ser um instrumento altamente promissor, possui baixo custo.
Fobias
A Terapia de Exposição à Realidade Virtual (VRET) tem auxiliado a psiquiatria no tratamento de fobias. Isso porque a técnica promove a abordagem mais direta dos medos e angústias do paciente em um ambiente controlado. Ou seja, em vez de visualizar ou mentalizar os seus medos, pode vivenciar a situação dentro do consultório, um espaço seguro e acolhedor.
Durante a terapia, médicos e psicólogos podem avaliar as respostas do paciente e indicar os melhores tratamentos.
Ansiedade, depressão e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC)
Outros transtornos mentais em que a Terapia de Exposição à Realidade Virtual (VRET) é útil são ansiedade, depressão, síndrome do pânico e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
No ambiente virtual, os pacientes também experimentam alterações no corpo e na mente parecidas com os sintomas da vida real. Tudo em um cenário controlado e com acompanhamento de especialistas, como psiquiatras e psicólogos.
Um estudo realizado em St George’s Hospital, em Londres, avaliou o uso de VR em pacientes com ansiedade durante internação para procedimentos cirúrgicos. Eles visualizam paisagens tranquilas e ouviam música relaxantes por meio de um fone de ouvido.
Os resultados: 94% ficaram mais relaxados, 80% sentiram menos dor e 73% tiveram menos ansiedade.
Dor fantasma
A realidade virtual na medicina tem apresentado resultados até para tratamento de dor fantasma em pacientes paraplégicos e amputados. Por exemplo, há jogos que estimulam o usuário a mover o membro faltante.
Com isso, auxiliam o cérebro a reconectar as áreas de estímulo, amenizando a dor ou até mesmo a eliminando por determinado período.
2. Fisioterapia
Na fisioterapia, a realidade virtual auxilia na avaliação e reabilitação de pacientes com distúrbios do movimento, do equilíbrio postural e da marcha. Por exemplo, há tecnologias não imersivas que criam exercícios com aprendizado de máquina para personalizar cada atividade às necessidades terapêuticas dos pacientes.
Diversas pesquisas demonstram que a RV reduz tontura e outros sintomas otoneurológicos e melhora o equilíbrio corporal, a capacidade funcional e a qualidade de vida.
3. Reabilitação cognitiva
Há diversas pesquisas que estudam a realidade virtual na reabilitação e desenvolvimento cognitivo de pessoas com distúrbios neuropsiquiátricos e autismo. Neste último, cientistas da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, simularam realidades virtuais em que os pacientes interagiam com outras pessoas, como realizar compras no supermercado.
Após o treinamento, oito jovens adultos com autismo sem grande comprometimento do entendimento apresentaram aumentos significativos nas medidas cognitivas sociais da teoria da mente e reconhecimento de emoções e no funcionamento social e ocupacional da vida real.
Atualmente, a universidade oferece um programa de treinamento que ajuda jovens com autismo a trabalharem as suas habilidades sociais.
4. Treinamentos de médicos
Por meio da realidade virtual na medicina, é possível ver detalhes do corpo humano e treinar procedimentos.
Estudante, imagine praticar cirurgia em um ambiente virtual? A Universidade de Stanford possui um simulador que permite o treinamento mais completo para o futuro cirurgião.
Para os pesquisadores, um ambiente cirúrgico virtual tridimensional pode permitir um planejamento e ensaio pré-operatório aprimorado. Desse modo, melhora os resultados do paciente, diminui as taxas de complicações e aprimora as habilidades técnicas.
O Stanford Virtual Surgical Environment (VSE) é desenvolvido para procedimentos rinológicos. A tecnologia permite que o cirurgião interaja com reconstruções tridimensionais específicas do paciente de conjuntos de dados de TC de seio nasal usando um dispositivo de interface háptico modificado, acionando um endoscópio virtual.
No Brasil, também há opções de simuladores. Por exemplo, o Eyesi é voltado para treinamento de cirurgia intraocular de catarata e procedimentos vítreo retinianos. Apresenta score de performance e avalia tremor, precisão do movimento e repetitividade, dentre outras análises. Com isso, é uma boa ferramenta para a prática de residentes e a introdução de novas técnicas em cirurgia oftalmológica.
Há também os sistemas cirúrgicos para cirurgia robótica da Vinci, que já estão na quarta geração. A tecnologia realiza cirurgias minimamente invasivas em diferentes procedimentos. Uma de suas ferramentas é um console – inspirado nos simuladores de voo – em que os médicos visualizam as imagens em 3D de alta definição e fazem os movimentos operatórios com as próprias mãos, que são transmitidos para o robô.
Outra aplicação é o treinamento e requalificação de estudantes, residentes e especialistas em atendimento ou dentro do centro cirúrgico. Dessa forma, é possível realizar uma análise etnográfica da atuação do profissional, que fica sozinho durante o procedimento, por meio da captação das imagens por câmera instalada no local.
5. Qualidade de vida para idosos e deficientes físicos
De fato, idosos e deficientes físicos podem ter dificuldade de locomoção. Então, imagine poder vivenciar experiências como andar de bicicleta e mergulhar no mar? Há projetos que desenvolvem estes cenários de maneira tão realista que até mudam a temperatura, luz e direção do vento.
Há também tecnologias que ajudam na redução da depressão em idosos que vivem acamados ou em asilos. Por exemplo, a startup Rendever combina o uso de aparelhos de realidade virtual, software personalizado e um tablet para recriar memórias escolhidas pelos idosos, como a casa da infância.
Revisado por Paulo Schor, médico oftalmologista, professor livre docente e diretor de inovação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaborador da Faculdade de Medicina do Hospital Albert Einstein.
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