De fato, a telemedicina cresce cada vez mais no mundo todo. No Brasil, acaba de ganhar mais espaço com a Lei nº 13.989, de 15 de abril de 2020, que libera o uso da ferramenta durante a atual pandemia do novo coronavírus (SARS-Cov-2). Na verdade, a medida vale para qualquer atividade no setor de saúde. Porém, em caráter emergencial.
Mas, como os médicos brasileiros avaliam o uso de tecnologias digitais na saúde? A resposta está na Pesquisa Conectividade e Saúde Digital na Vida do Médico Brasileiro, feita pela Associação Paulista de Medicina (APM) em fevereiro desse ano.
Em 2019, a APM também desenvolveu um estudo com objetivo similar.
Em seguida, conheça a percepção da classe médica sobre telemedicina.
Pesquisa
A Associação Paulista de Medicina (APM) realizou a Pesquisa Conectividade e Saúde Digital na Vida do Médico Brasileiro, em fevereiro, com 2.258 médicos, de 55 especialidades. Dentre as principais, estão Clínica Médica, Cardiologia, Ginecologia e Obstetrícia, Ortopedia e Neurologia.
Do total de respondentes, 60,54% são do sexo masculino e 39,46% do feminino. Os participantes são associados da APM e de outras entidades médicas parceiras.
Os resultados
De acordo com 90% dos médicos, as novas ferramentas digitais com alto padrão de segurança e ética podem ajudar a melhorar a saúde da população. Além disso, o mesmo percentual acredita que o sistema público de saúde poderia ser beneficiado com esses dispositivos em relação à diminuição das filas de espera por atendimento especializado.
Já 70% pensa que a telemedicina permite ampliar o atendimento médico além do consultório, com segurança de dados e privacidade entre médico e paciente.
Ferramentas tecnológicas no dia a dia
A pesquisa também avaliou o uso de tecnologias digitais na rotina da classe médica. Fora do atendimento na clínica ou no hospital, 65,19% usam o WhastApp e aplicativos de mensagens para comunicar-se com pacientes e/ou familiares.
Além disso, a chamada de voz, por meio de telefone fixo e celular, é adotada por 16,83% dos respondentes. Em relação ao e-mail, 5,67% o utilizam. Já 11,51% afirmou não recorrer a nenhuma forma de contato externo.
Dos que usam, 58,50% o fazem diariamente; 24,84%, algumas vezes na semana e 9,30%, raramente.
Sobre a remuneração desse suporte ao paciente via ferramentas de comunicação, 63,33% não cobra. Porém, 23,07% não sabe como calcular o valor e 12,67% embute no preço da consulta presencial.
Telemedicina
Questionados sobre as áreas da telemedicina que conhecem, os médicos responderam:
- Telerradiologia – 76,75%;
- Telecardiologia – 45,53%;
- Teleneurologia – 22,67%;
- Telepatologia – 19,88%;
- Outros (teledermatologia, teleoftalmologia, teleUTI, teleaula) – 11,25%.
Sobre armazenar os dados de pacientes e/ou compartilhar informações, 62% utilizam tecnologias digitais. Dentre elas, destacam-se:
- Prontuário eletrônico – 48,10%;
- Programas de gerenciamento de consultório/pacientes (ERP, E-SUS, PACS, PEP, ME e Tasy) – 18,4%;
- Armazenamento de dados (nuvem ou HD) – 17,5%;
- Outros (redes sociais, sites e Apps) – 13,10%;
- Digitalização de exames e imagens – 2,90%.
Regulamentação da telemedicina no Brasil
A APM também abordou sobre a regulamentação da telemedicina no Brasil.
Na pesquisa, a associação perguntou quais são as barreiras que impedem os médicos brasileiros de utilizar tecnologias de comunicação on-line, regulamentadas, para assistir ao paciente. Em seguida, confira as respostas:
- Falta de regulamentação que me permite usar – 43,76%;
- Não tenho barreiras. Eu utilizaria – 32,11%;
- Tenho receio de a medicina ser banalizada – 31,31%;
- O atendimento médico deve ser feito exclusivamente de forma presencial – 20,42%;
- Tenho receio de perder pacientes no meu consultório – 3,99%;
- Não acredito na eficácia desse tipo de ferramenta – 3,37%;
- Não sei utilizar tecnologia – 2,66%;
- Não acredito na tecnologia como ferramenta de suporte à saúde – 0,80%;
- Não gosto de tecnologia – 0,58%.
Atualmente, a especialidade obedece à Resolução nº 1.634/02, publicada em 2002, que a subdivide em três áreas: teleassistência, teleeducação e emissão de laudos à distância.
Em fevereiro de 2019, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma nova regulamentação por meio da Resolução nº 2.227/18. Basicamente, o texto havia liberado consultas online, telecirurgias e telediagnóstico, dentre outras frentes.
Entretanto, a resolução foi revogada rapidamente, ainda em fevereiro, após sofrer várias críticas de entidades e médicos. A pesquisa perguntou aos médicos qual o posicionamento deles sobre a revogação. Logo abaixo, veja as respostas:
- Não tenho acompanhado as discussões – 28,81%;
- Não tenho opinião formada sobre a questão – 22,05%;
- Eu concordo com a decisão do CFM – 18,64%;
- Não tenho conhecimento da resolução – 15,77%;
- Acompanho as discussões – 10,45%;
- Eu não concordo com as discussões – 10,27%.
Em relação ao que desejam de um novo posicionamento da CFM sobre o assunto, 64% acreditam em uma regulamentação que permita a ampliação de serviços e atendimentos à população brasileira. Aliás, incluindo a teleconsulta.
Por outro lado, 27% quer uma regulamentação que proíba a teleconsulta e 9% deseja a manutenção da atual.
Nova regulamentação
Sobre a possibilidade de uma nova regulamentação da telemedicina pelo CFM, com os recursos tecnológicos necessários para a segurança e ética da medicina, 63% afirmaram que utilizaria essa ferramenta para complementar o atendimento da clínica/hospital. Contudo, 25% ainda avaliaria a possibilidade. No entanto, 12% não utilizaria.
Carreira
Além disso, a APM questionou se os profissionais enxergam a telemedicina como uma oportunidade ou uma ameaça à sua carreira. Em seguida, conheça as respostas:
- Oportunidade – 44,15%;
- A longo prazo, talvez seja uma oportunidade – 24,71%;
- Não tenho opinião formada sobre a questão – 15,99%;
- Ameaça – 8,28%;
- A curto prazo, entendo que é uma ameaça – 6,86%.
Conclusão
Sem dúvida, a pesquisa da APM mostra que os médicos brasileiros acreditam que a telemedicina pode ajudar na melhoria da saúde. Mas, para isso, é necessária uma nova regulamentação definitiva, que permita o emprego da ferramenta em várias vertentes dentro da área.
Dessa forma, esse deve ser o próximo passo.
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