Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos conseguiu reviver células sensíveis à luz em olhos de doadores, cedidos minutos depois do óbito, e restauraram a comunicação entre essas células. A descoberta, publicada na revista Nature, pode transformar a pesquisa sobre o cérebro e a visão.
Em seguida, entenda como o estudo utilizou a retina como modelo do sistema nervoso central para investigar como os neurônios morrem e novos métodos para “ressuscitá-los”.
A pesquisa
Os cientistas conseguiram despertar células fotorreceptoras na mácula humana em olhos obtidos até cinco horas após a morte. Essas células responderam à luz brilhante, luzes coloridas e até mesmo flashes de luz muito fracos.
Enquanto os experimentos iniciais reviveram os fotorreceptores, as células pareciam ter perdido a capacidade de se comunicar com a retina. Então, os pesquisadores identificaram a privação de oxigênio como o fator crítico da perda de comunicação.
Para superar esse desafio, a equipe avaliou tecidos até 20 minutos após a morte. Simultaneamente, projetaram uma unidade de transporte especial para restaurar a oxigenação e outros nutrientes para os olhos do doador de órgãos e também um dispositivo para estimular a retina e medir a atividade elétrica de suas células.
Os resultados
Com essa abordagem, os cientistas conseguiram restaurar um sinal elétrico específico visto em olhos vivos: a “onda b”. É a primeira gravação de “onda b” feita a partir da retina central de olhos humanos post mortem.
“Estudos anteriores restauraram uma atividade elétrica muito limitada em olhos de doadores de órgãos, mas isso nunca foi alcançado na mácula, e nunca na medida que demonstramos agora”, explica um dos responsáveis pelo estudo, o cientista Frans Vinberg.
A pesquisa já forneceu dados de mais de 40 olhos de doadores humanos, incluindo a primeira descrição de um mecanismo que deve limitar a velocidade da visão central humana.
Esses mecanismos podem ser usados para estudar outros tecidos neuronais no sistema nervoso central. Sem dúvida, é um avanço técnico transformador que pode ajudar a desenvolver uma melhor compreensão das doenças neurodegenerativas, incluindo as que causam cegueira relacionada à hipoxia macular, como nos descolamentos de retina.
Vinberg aponta que essa abordagem pode reduzir os custos de pesquisa em comparação com a realiza em primatas não humanos e a dependência de modelos animais que produzem resultados que nem sempre se aplicam a humanos. Embora os camundongos sejam comumente usados na pesquisa da visão, eles não têm mácula. Os pesquisadores também podem testar novas terapias em potencial nas células do olho humano, acelerando o desenvolvimento de medicamentos.
Revisado por Paulo Schor, médico oftalmologista, professor livre docente e diretor de inovação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaborador da Faculdade de Medicina do Hospital Albert Einstein.
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