Pesquisa restaura visão com córnea artificial feita de pele de porco
agosto 31, 2022
Gabriela Marques

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Veja como ocorreu o estudo e como os resultados podem ajudar, no futuro, a superar a escassez de córnea doada.
Cornea Artificial

Já há algum tempo a ciência busca alternativas para a córnea humana doada. Atualmente, estima-se que 12,7 milhões de pacientes esperam pelo novo tecido, mas que só existem um disponível para cada 70 pessoas.

Por exemplo, médicos israelenses realizaram o primeiro transplante de córnea artificial bem-sucedido do mundo recentemente. O paciente, um homem de 78 anos, conseguiu recuperar parcialmente a visão após 10 anos com dificuldades em enxergar.

Agora, cientistas desenvolveram um implante feito de proteína de colágeno de pele de porco, parecido com a córnea humana, que restaurou a visão de 20 pessoas com ceratocone. A pesquisa foi publicada na revista Nature Biotechnology.

Em seguida, veja como ocorreu o estudo e como os resultados podem ajudar, no futuro, a superar a escassez de córnea doada. Principalmente em países de baixa e média renda que possuem infraestrutura limitada para o procedimento, coleta e armazenamento em bancos de tecidos, o que aumenta a eficácia em reverter a cegueira em vários pacientes.

A pesquisa

O trabalho da Universidade de Linköping e da LinkoCare Life Sciences AB, na Suécia, usou moléculas de colágeno derivadas da pele de porco, que foram altamente purificadas e desenvolvidas para uso exclusivo em humanos.

Os pesquisadores estabilizaram as moléculas soltas, formando um material robusto e transparente que poderia suportar o manuseio e a implantação no olho. Dessa forma, foi possível restaurar a espessura e a curvatura da córnea.

Enquanto o tecido humano deve ser usado dentro de duas semanas, as córneas de bioengenharia podem ser armazenadas por até dois anos.

Além disso, a pele suína utilizada no estudo é um subproduto da indústria alimentícia, o que facilitou o acesso e redução de custos.

Cornea Artificial 2

Foto: divulgação

Os resultados

Simultaneamente, os pesquisadores também utilizaram um método já existente para realizar o procedimento de modo minimamente invasivo e implantar o biomaterial.

“Um método menos invasivo poderia ser usado em mais hospitais, ajudando assim mais pessoas. Neste procedimento, o cirurgião não precisa remover todo o tecido do paciente. Em vez disso, é feita uma pequena incisão, através da qual o implante é inserido na córnea existente”, explicou em comunicado Neil Lagali, professor do Departamento de Ciências Biomédicas e Clínicas da LiU e líder da pesquisa.

Por exemplo, este novo método não precisa de pontos. A incisão na córnea pode ser feita com alta precisão por meio de um laser avançado ou com instrumentos cirúrgicos simples. O procedimento foi testado pela primeira vez em porcos e, segundo os cientistas, mostrou ser mais simples e potencialmente mais seguro do que um transplante convencional.

A córnea artificial foi implantada em 20 pacientes com baixa visão. As operações não apresentaram complicações relevantes, o tecido cicatrizou em um tratamento de oito semanas com o uso de colírio imunossupressor, necessário para evitar a rejeição do implante. Em transplantes de córnea convencionais, há de se manter a atenção para o risco contínuo da rejeição.

Depois de dois anos, 17 pacientes recuperaram parte da visão e três recuperaram de modo mais consistente.

Próximos passos

“Os resultados mostram que é possível desenvolver um biomaterial que atenda a todos os critérios para ser usado como implante humano, que pode ser produzido em massa e armazenado por até dois anos e, assim, atingir ainda mais pessoas com problemas de visão. Isso nos ajuda a contornar a escassez de tecido corneano doado e acesso a outros tratamentos para doenças oculares”, afirma Lagali.

Um estudo clínico maior, seguido de aprovação das autoridades reguladoras, é necessário antes que o implante possa ser usado na área da saúde. Os pesquisadores também querem estudar se a tecnologia pode ser usada para tratar mais doenças oculares, além do ceratocone, e se o implante pode ser adaptado ao indivíduo para uma eficácia ainda maior.

Revisado por Paulo Schor, médico oftalmologista, professor livre docente e diretor de inovação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaborador da Faculdade de Medicina do Hospital Albert Einstein.

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