Para um dos oftalmologistas mais renomados do Brasil, a tecnologia é fundamental no atendimento primário porque permite detectar doenças oculares de forma mais rápida, simples e barata.
Há 20 anos, o oftalmologista Rubens Belfort Jr. busca maneiras eficientes de empregar a telemedicina no diagnóstico de doenças oculares. “Inicialmente, os aparelhos eram muito caros e pesados, o que tornava muito difícil, principalmente no Brasil, usarmos a teleoftalmologia”, relembra Belfort.
Entretanto, nos últimos anos, surgiram modelos mais modernos, práticos e baratos no mercado. Um deles é o smartdevice Phelcom Eyer, que acoplado ao smartphone, realiza exames de fundo de olho em poucos minutos e sem a necessidade de dilatação da pupila. Além disso, permite o envio e o armazenamento da fotografia em uma plataforma on-line para laudo remoto.
Por meio da comunidade científica, Belfort conheceu o equipamento ainda na fase de desenvolvimento. “Acompanhei todo o processo e auxiliei no aprimoramento desta tecnologia que revoluciona a possibilidade de expansão no diagnóstico de doenças oftalmológicas. E não apenas no Brasil, mas em todos os países, já que a falta de recurso financeiros é geral”, afirma.
Contudo, o médico nunca teve nenhum relacionamento comercial com a empresa que criou o dispositivo, a startup Phelcom Technologies.
Belfort avalia que o aparelho possui vantagens significativas em relação aos retinógrafos tradicionais, como portabilidade, fácil manuseio, alta qualidade das imagens e preço extremamente acessível. “Esse tipo de tecnologia é muito importante não apenas na oftalmologia, mas também para outras especialidades, como endocrinologia, geriatria e reumatologia. Além disso, os estudantes de medicina precisam aprender a usar esse modelo de aparelho e aposentar o de antigamente, que existe há mais de 150 anos e está totalmente superado”, pontua.
Instituto da Visão
Desde 2019, o Eyer é utilizado diariamente pela equipe de Belfort no atendimento primário de pacientes SUS no Instituto Paulista de Estudos e Pesquisas em Oftalmologia (IPEPO), popularmente conhecido como Instituto da Visão, em São Paulo. A entidade é sem fins lucrativos, de caráter filantrópico e vinculada ao Departamento de Oftalmologia da Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Belfort é professor titular no Departamento de Oftalmologia desde 1991.
O Instituto da Visão presta serviços médicos por meio de diagnósticos, tratamentos clínicos e cirúrgicos em projetos assistenciais e didáticos. Atualmente, atende aproximadamente 80 mil pacientes SUS com o auxílio da teleoftalmologia. Com um treinamento rápido, os profissionais da área, como técnicos, enfermeiros e estudantes, sob a supervisão dos médicos, realizam os exames. Até hoje, já foram feitos mais de 80 mil exames para detecção de doenças como glaucoma, catarata, retinopatia diabética, maculopatias, toxoplasmose e outras.
“A nossa experiência mostra que a cada 1 mil pacientes, 850 não apresentam uma doença com necessidade de encaminhamento e tratamento. Na verdade, 85% precisam de óculos ou apresentam sintomas de olho seco ou problemas menos perigosos. Portanto, através dessa tecnologia, nós conseguimos fazer o diagnóstico e já encaminhar esses 15% para o tratamento correto. Isso proporciona uma enorme economia de tempo e de recursos para o sistema médico e também ao paciente. Todos ganham”, ressalta Belfort.
Neste sentido, o oftalmologista avalia que o uso do Eyer no atendimento primário é fundamental, pois dá poder aos profissionais para detectar, de forma mais rápida e simples, doenças oculares. “Esse é o futuro. Mais ainda: em alguns anos, o próprio paciente poderá se autoexaminar. Esse é o caminho que essa tecnologia está permitindo”, reflete.
Ações sociais e pesquisas
Belfort também usa o Eyer em ações médicas e em pesquisas da Unifesp. “Utilizamos no Centro de Oncologia Ocular do Amazonas, em Manaus, e a partir desse ano, também usaremos no nosso campus avançado em Rondônia, em parceria com a USP”, conta.
Em relação às pesquisas, a mais recente contou com o Eyer na detecção do novo coronavírus (SARS-CoV-2) em lesões nas retinas. A descoberta é inédita. O trabalho foi realizado em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) pelo cientista Wanderley de Souza e publicado no periódico JAMA Ophthalmology.
Os pesquisadores, liderados por Belfort, fotografaram o fundo do olho de um paciente com o Eyer. “A qualidade da imagem é muito boa. Com certeza, não é inferior a outros modelos muito mais caros. Provavelmente, é até melhor do que estes. A qualidade é tão boa que as fotografias feitas na pesquisa são aceitas nas melhores revistas de oftalmologia do mundo”, afirma Belfort.