A diabetes, sobretudo o tipo 2, é uma das principais doenças suscetíveis a complicações do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Isso porque é um fator de risco para a piora de várias infecções, uma vez que debilita as defesas do organismo.
Para você ter uma ideia, 31% do total de pacientes mortos por Covid-19 no Brasil, até julho, eram diabéticos.
Hoje, o país tem 7,4% portadores dessa enfermidade, de acordo com um levantamento da Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), divulgado pelo Ministério da Saúde.
E como está a saúde desses pacientes nesta pandemia? Nada bem, pois apresentam uma piora nos níveis glicêmicos devido à mudança de hábitos durante o isolamento social. Como, por exemplo, falta de atividades físicas.
Os dados são de uma pesquisa feita pela Universidade de São Paulo (USP), em parceria com outras instituições, e divulgada recentemente na revista Diabetes Research and Clinical Practice.
Em seguida, entenda como foi realizado o estudo, os resultados e como os diabéticos devem redobrar os cuidados no momento atual.
Diabetes e coronavírus – a pesquisa
Uma associação entre instituições nacionais e internacionais, incluindo a Universidade de São Paulo (USP), realizou uma pesquisa inédita com 1,7 mil brasileiros sobre o impacto da Covid-19 em portadores de diabetes. Os resultados foram publicados na revista Diabetes Research and Clinical Practice, em 3 de julho.
Os dados foram coletados através de uma pesquisa anônima e não rastreável. Contendo 20 questões de múltipla escolha, foi compartilhada em sites e mídias sociais por meio de instituições afiliadas, entidades coligadas ou parceiras e grupos de mídia social para diabetes.
Portanto, esse estudo foi feito por amostragem por conveniência.
As perguntas abordavam sociodemografia, a natureza do sistema de saúde, o estado de saúde dos participantes e aspectos atribuídos à pandemia da Covid-19, como frequência de saídas, alterações observadas nos níveis glicêmicos e acesso a cuidados médicos, dentre outros.
Diabetes e coronavírus – os resultados
Ao todo, 75% dos participantes eram mulheres, 78% tinham entre 18 e 50 anos e 65% moravam na região Sudeste. A maioria (60%) era portadora de diabetes tipo 1 e 31%, do tipo 2. Além disso, 39% tinham acesso ao serviço privado de saúde e 33% deles utilizavam ambos os sistemas, público e privado.
Muitas pessoas relataram dificuldades no acesso aos medicamentos necessários ao controle da diabetes. Dos 64% dos pacientes que retiram no SUS, só 21% receberam a quantidade para 90 dias, conforme orientação do Ministério da Saúde.
Outras mudanças relatadas devido à pandemia do novo coronavírus foram:
- 95% reduziu a frequência de saídas. Destes, 26% nunca saíram desde o início da pandemia;
- Dos 91,5% que monitoram a glicemia em casa, 59,4% sofreu uma deterioração. Destes, 31,2% tiveram maior variabilidade do que antes da pandemia, glicemia 20% maior e níveis glicêmicos 8,2% mais baixos.
- 38,4% adiaram consultas médicas e/ou exames de rotina;
- 40,2% não agendaram consulta médica desde o início da pandemia;
- 59% diminuiu a prática de atividades físicas. Destes, 14,7% com leve redução e 44,8% com grande redução.
A análise revelou também uma associação entre idade, ocorrência dos sintomas da Covid-19, tipos de diabetes e a evolução de algumas comorbidades. Por exemplo, os portadores de diabetes tipo 2 controlam menos os níveis glicêmicos e tiveram maior assiduidade de outras doenças e complicadores, como problemas de saúde mental. Já muitos diabéticos tipo 1 demonstraram sintomas. Porém, não foram testados.
Conclusão
Os pesquisadores concluíram que os resultados da pesquisa revelam riscos de curto, médio e longo prazo para pessoas com diabetes no Brasil. Isso porque a pandemia de Covid-19 abriu caminho para comportamentos insalubres e inseguros. Dentre eles, o adiamento de consultas médicas, redução de atividade física e privação da coleta de medicamentos e suprimentos. Tudo disso levou a uma alta porcentagem de piora glicêmica.
Por exemplo, apenas 21% dos 64,5% receberam remédios do SUS para 90 dias. Essa estratégia é recomendada por diferentes organizações para evitar saídas desnecessárias e visitas aos locais de saúde.
Dessa forma, também mostra que as medidas implementadas até o momento não abrangem a maior parte dessa população. Ou seja, funciona apenas para uma minoria.
Já em relação ao tratamento, o cenário atual impacta diretamente a disponibilidade e o acesso aos profissionais de saúde para o atendimento rotineiro de pessoas com diabetes. Isso porque muitos deles foram realocados para serviços de emergência, locais de testes, UTIs e outros serviços para atender os infectados.
Neste sentido, a telemedicina auxilia com a possibilidade de consultas on-line, reforçando assim o papel da Atenção Primária à Saúde durante a pandemia, garantindo monitoramento próximo e oportuno de pacientes diabéticos.
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