Desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o projeto “Revolução na retina: IA e telemedicina levam diagnóstico rápido a pacientes com diabetes” foi um dos vencedores do Prêmio Veja Saúde & Oncoclínicas de Inovação Médica 2025, na categoria Tecnologias Diagnósticas — um dos mais importantes reconhecimentos nacionais na área da saúde. Os vencedores foram anunciados em 5 de setembro.
A iniciativa representa um avanço significativo no rastreamento da retinopatia diabética, uma das principais causas de deficiência visual e cegueira no mundo. A doença é uma complicação comum do diabetes, mas pode ser prevenida com diagnóstico e tratamento precoces.
O rastreamento periódico com exames de fundo de olho é essencial para identificar a doença em suas fases iniciais e evitar danos irreversíveis à visão — um grande desafio no Brasil, especialmente na rede pública de saúde.
“Enxergo esse reconhecimento com enorme relevância, por representar uma linha bastante inovadora: a implementação de dispositivos inteligentes e seu impacto positivo em desfechos de saúde”, afirma o oftalmologista e um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, Fernando Korn Malerbi.

Vencedores do Prêmio Veja Saúde & Oncoclínicas de Inovação Médica 2025.
Tecnologia nacional e impacto real
O estudo foi conduzido no Centro de Diabetes da Unifesp, em 2024, utilizando o retinógrafo portátil Eyer. O equipamento permite a captura de imagens de alta definição do fundo do olho e integra-se ao EyerCloud, plataforma online para o gerenciamento de exames. O sistema também utiliza o EyerMaps, uma inteligência artificial capaz de identificar possíveis anomalias na retina em poucos segundos.
As informações coletadas eram analisadas por especialistas de forma remota, o que reduzia etapas e acelerava o diagnóstico.
No total, 801 pacientes com diabetes participaram da triagem e quase 15% apresentaram sinais de retinopatia diabética. Malerbi destaca que a adesão às consultas de seguimento beirou 100%, demonstrando alto engajamento e confiança no processo.
O tempo médio entre o exame e o início do tratamento caiu de 20 para 9 dias, representando um avanço decisivo em uma condição considerada tempo-sensível. “Reduzir o intervalo entre o diagnóstico e o tratamento é fundamental na retinopatia diabética, uma vez que o atraso pode significar perda visual irreversível”, explica.
Segundo ele, o projeto gerou benefícios como maior eficiência no rastreamento, otimização de recursos, alta adesão dos pacientes, redução dos tempos de espera e de satisfação da equipe envolvida.
“A solução aplicada é 100% brasileira e a pesquisa foi desenvolvida em um ambiente público, dentro de uma universidade federal. Isso reforça o potencial de inovação científica e tecnológica existente no país, especialmente quando unimos a academia à prática clínica”, ressalta Malerbi.
Desafios e próximos passos
Embora o estudo tenha sido viável em ambiente de pesquisa, Malerbi reconhece os desafios para ampliar a implementação do modelo fora da universidade. “Dentro de um ambiente acadêmico, foi relativamente simples desenhar e executar o projeto. No entanto, acreditamos que uma das maiores dificuldades em larga escala esteja na formação de profissionais capacitados para a obtenção das imagens e elaboração dos laudos, além do desenho de um fluxo clínico eficiente em sistemas de saúde mais complexos”, avalia.
O oftalmologista reforça que os próximos passos são transformar o projeto em rotina assistencial e apoiar sua replicação em outros serviços públicos e privados. “Pretendemos criar condições para que o projeto se torne parte do atendimento regular e também oferecer subsídios para que nossa experiência possa ser aplicada em sistemas de saúde mais abrangentes”, conclui.
Prêmio

Prêmio Veja Saúde & Oncoclínicas de Inovação Médica 2025.
O Prêmio Veja Saúde Oncoclínicas de Inovação Médica, com curadoria da VEJA SAÚDE, reconhece projetos, instituições e profissionais que contribuem de forma significativa para o avanço científico, clínico e assistencial na área da saúde.
A iniciativa valoriza trabalhos conduzidos, publicados ou liderados por médicos e cientistas brasileiros, abrangendo estudos clínicos, testes laboratoriais, projetos educativos e assistenciais, campanhas de prevenção e soluções desenvolvidas por healthtechs, dentre outros.
Os projetos finalizados e com resultados consolidados que atendem aos critérios do regulamento são avaliados por um júri de especialistas. Com base nessas análises, são definidos os vencedores em cada categoria: Medicina de Precisão e Genômica, Prevenção e Promoção da Saúde, Tecnologias Diagnósticas, Terapias e Tratamentos Inovadores, Medicina Social, Engajamento e Empoderamento do Paciente e IA na Transformação Digital em Saúde.