O glaucoma afeta mais de 80 milhões de pessoas no mundo todo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, o Ministério da Saúde estima mais de 900 mil casos.
E a situação ainda deve piorar. A OMS prevê que 111,5 milhões de indivíduos sofram com o problema em 2040. O aumento da prevalência da doença é atribuído a dois fatores: envelhecimento da população e crescimento nos diagnósticos.
Atualmente, a doença é a principal causa de cegueira irreversível. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), mais de 80% dos portadores não apresentam sintomas na fase inicial. Isso torna difícil o diagnóstico precoce e, consequentemente, a maior chance de sucesso no tratamento, que não retrocede, mas impede o avanço da perda de visão.
Recentemente, um estudo multicêntrico brasileiro obteve eficácia de 88% no tratamento com aplicação de SLT (trabeculoplastia seletiva a laser, na sigla em inglês) em pacientes com glaucoma com ângulo aberto e hipertensão ocular. Os resultados foram divulgados no periódico internacional Scientific Reports da Nature.
Em seguida, entenda como ocorreu a pesquisa e como os resultados podem postergar o uso de colírios ou mesmo retirar pelo menos um deles no tratamento de glaucoma.
A pesquisa
O oftalmologista Ricardo Yuji Abe, responsável pelo setor de Glaucoma do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), coordenou um estudo multicêntrico feito em todo o Brasil com 835 voluntários. Apenas um olho por paciente recebeu o tratamento com trabeculoplastia a laser. Os pesquisadores acompanharam o grupo durante dois anos e meio.
Neste período, foram realizados diversos exames oftalmológicos abrangentes, como acuidade visual, biomicroscopia com lâmpada de fenda, medida da PIO (tonômetro de Goldmann), gonioscopia (com lentes de Posner), fundoscopia e fotografia do disco óptico.
Esse é o primeiro estudo em larga escala da América Latina que reuniu um grande número de pacientes brasileiros e reforçou trabalhos prévios sobre a efetividade da utilização de SLT para pacientes portadores de glaucoma de ângulo aberto ou mesmo os hipertensos oculares.
Os resultados
Do total, 88% dos pacientes ou conseguiram manter a pressão ocular alvo sem utilizar colírio; ou tiveram uma redução de pressão intraocular; ou, ainda, diminuíram o número de colírios que precisavam usar diariamente no tratamento de glaucoma.
“Apesar da eficácia diminuir com o passar do tempo, esse já é um ganho enorme para o portador de glaucoma ou hipertensão intraocular ocular, pois ao postergar o uso de colírios ou mesmo retirar pelo menos um deles, conseguimos reduzir os possíveis efeitos colaterais das medicações. Além disso, há a questão financeira, já que o gasto mensal com os colírios pode ser minimizado com a realização do laser, mesmo que por um determinado período. Ou seja, uma solução, sem dúvida, que melhora muito a qualidade de vida das pessoas”, ressaltou Abe, em comunicado.
Além desses achados, devemos ressaltar a aderência ao tratamento, que no caso dos colírios tende a ser baixa, o que não ocorre em procedimentos cirúrgicos.
Revisado por Paulo Schor, médico oftalmologista, professor livre docente e diretor de inovação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaborador da Faculdade de Medicina do Hospital Albert Einstein.
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