No início de 2020, o projeto Nestor (Neuronal Stimulation for Recovery of Function) conseguiu recuperar parte da visão de uma paciente cega por meio de um óculos conectado ao cérebro.
Na ocasião, a voluntária Bernardeta Goméz, de 57 anos, relatou enxergar pontos e formas brilhantes, nos tons brancos e amarelos. Ela foi capaz de reconhecer pessoas, luzes, letras e objetos próximos.
Dois anos depois, o consórcio constituído por cientistas de diversos institutos e responsável pelo projeto divulgou novos avanços. Em seguida, entenda melhor como a neuroprótese pode restaurar a visão de deficientes visuais.
A pesquisa
Pesquisadores de diversos institutos, como o Instituto Holandês de Neurociência, a Universidade de Twente, a Universidade Radboud, a Universidade de Maastricht e a Universidade de Tecnologia de Eindhoven, desenvolveram um óculos capaz de transmitir imagens para o cérebro em pacientes cegos e, dessa forma, permitir que eles pudessem enxergar.
Para isso, o equipamento possui uma câmera que tira fotos e as envia para serem processadas por um pequeno computador, instalado na parte de trás do pescoço. Depois, as informações são transmitidas sem fio para um chip implantado no cérebro através de uma combinação de ondas de rádio, parecido com Wi-Fi e Bluetooth.
O chip cerebral tem 1.024 eletrodos que enviam sinais elétricos para diferentes áreas do córtex visual, criando percepções visuais artificiais, mesmo quando há danos extensos ao olho ou ao nervo óptico.
O método é similar aos sinais naturais que os olhos mandam para o córtex visual.
Resultados
Esse novo chip ainda não foi testado em humanos, mas os experimentos de laboratório e em macacos têm alcançado resultados promissores. Por exemplos, os primatas conseguiram reconhecer formas, objetos em movimento e linhas.
Contudo, é necessário aumentar a quantidade de eletrodos para que humanos possam enxergar com uma qualidade razoável. Outro empecilho no momento é que o chip funciona com uma corrente elétrica 1 miliwatt. Outras pesquisas que implantaram chips similares causaram ataques epiléticos conforme a eletricidade passava pelo crânio.
Além de recuperar parte da visão, um dos objetivos da tecnologia ser sem fio é diminuir o risco de possíveis infecções no cérebro.
De fato, há outros estudos nessa área. Porém, esse é o primeiro a não usar os olhos e nervos ópticos para o paciente voltar a enxergar. Nesta pesquisa, os cientistas levaram em consideração que muitas lesões ocorrem no sistema nervoso que conecta a retina. Ou seja, não necessariamente no globo ocular. Dessa forma, a tecnologia agirá diretamente no cérebro.
A expectativa da empresa é que a tecnologia esteja pronta para uso em massa por pacientes cegos em 10 anos.
Fonte: O Globo
Revisado por Paulo Schor, médico oftalmologista, professor livre docente e diretor de inovação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaborador da Faculdade de Medicina do Hospital Albert Einstein.
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