O médico Gustavo Rosa Gameiro, doutorando em oftalmologia pela Unifesp, foi selecionado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) para participar do 8º Fórum de Jovens Cientistas do BRICS. O evento ocorreu de 31 de julho a 08 de agosto em Gqeberha, na África do Sul.
O BRICS é um grupo composto por cinco países em desenvolvimento focado em cooperação econômica mútua: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
Gameiro foi um dos seis cientistas brasileiros indicados para compor a plenária “O futuro da educação, skills e conjunto de habilidades”. O doutorando ressalta que a educação entrou na pauta do BRICS com muita força neste ano. “Na minha apresentação, discutimos sobre aplicações de modelos básicos e o uso do retinógrafo portátil com inteligência artificial Eyer para o ensino de oftalmologia a partir dos resultados de nossos workshops”, conta o médico, o mais jovem da delegação brasileira no evento: 27 anos de idade.
O médico Gustavo Gameiro utilizou o retinógrafo portátil Eyer em seu projeto apresentado no 8º Fórum de Jovens Cientistas do BRICS. Foto: arquivo pessoal.
Gameiro explica que a primeira abordagem de doenças como glaucoma, Degeneração Macular Relacionada à Idade (DMRI) e retinopatia diabética na atenção primária é realizada, muitas vezes, pelo médico clínico recém-formado.
“Entretanto, estudos revelam que eles manifestam um enorme déficit no ensino de oftalmologia durante a graduação, comprometendo a correta abordagem e o prognóstico desses casos. E isso pode refletir na insegurança em encaminhar ou atender pacientes com queixas oftalmológicas”, explica.
Workshops
Os workshops ocorreram com os estudantes de graduação da Unifesp e do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e contou com o apoio dos oftalmologistas Thiago Gonçalves Martins e Paulo Schor, orientador do doutorado de Gameiro. O retinógrafo portátil Eyer e o sistema de IA EyerMaps foram disponibilizados gratuitamente pela Phelcom Technologies para o projeto.
“Com o recurso de IA EyerMaps, que destaca com um mapa de calor as áreas da retina com possíveis alterações provocadas por diferentes patologias, conseguimos ensinar e corrigir a interpretação dos achados pelo aluno no mesmo instante em que capturamos o fundo do olho”, ressalta o médico.
“A nitidez das imagens é absurdamente incrível. Nós fizemos exames nos colegas e conseguimos ver cada detalhe da retina, do nervo óptico e dos vasos. Transformar aparelhos grandes e pesados como um retinógrafo em portáteis facilita muito a vida do médico, pois conseguimos ir até os pacientes e alcançar melhores resultados”, conta a estudante de medicina da Unifesp, Suellyn Alves, participante do workshop.
Gameiro vai além. “Talvez precisemos mudar o paradigma de apenas ensinar aos alunos como adquirir imagens por meio dos equipamentos oftalmológicos. É necessário focar em como interpretá-las e fazer a gestão desses exames, organizando-os na nuvem, por exemplo. E com o Eyer dá para ensinar tudo isso na prática”, fala.
Com os resultados satisfatórios dos workshops, o médico revela a vontade de expandir o projeto e transformá-lo em um material de apoio para o ensino de oftalmologia em todo o Brasil.
Delegação Brasileira durante o 8º Fórum de Jovens Cientistas do BRICS. Foto: arquivo pessoal.
Concurso “De Olhos para o Futuro”
Gameiro também está trabalhando em um novo projeto simultaneamente: a avaliação do impacto e seguimento dos projetos apresentados no concurso “De Olhos para o Futuro”, realizado pela Associação Brasileira de Ligas Acadêmicas de Oftalmologia (ABLAO), em parceria com a Phelcom e com apoio do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
A competição busca ensinar os estudantes e estimular as ligas a desenvolverem atividades de extensão que visem a criação de projetos educativos e/ou assistenciais com o objetivo de redução da cegueira por patologias do segmento posterior. Para isso, a Phelcom disponibilizou 20 unidades do Eyer com acesso ao recurso EyerMaps e ao sistema em nuvem EyerCloud.
O concurso selecionou 10 projetos e os três primeiros colocados ganharão um Eyer. “Seria muito interessante se conseguíssemos deixar definitivamente um retinógrafo portátil com cada uma das 10 ligas. Vamos trabalhar para conseguir patrocínio para a aquisição dos sete aparelhos que faltam”, afirma o médico.
“Após a seleção das Ligas Acadêmicas, conversando com o presidente da ABLAO Luís Sabage, percebemos a necessidade de avaliação e seguimento dos projetos apresentados. Nosso objetivo futuro é ampliar o número de ligas de oftalmologia, de estudantes de medicina e de pacientes alcançados pelos projetos de extensão desenvolvidos”, explica.
Além disso, com base nos resultados obtidos no concurso “De Olhos para o Futuro” e nos pontos de melhoria encontrados, Gameiro pretende estruturar um curso online de oftalmologia para estudantes de medicina e médicos generalistas, abrangendo técnicas básicas de exame oftalmológico, uso de plataformas de inteligência artificial e interpretação de imagens de retinografia.
O médico ressalta que os equipamentos tradicionais para a avaliação de fundo de olho, como a fundoscopia realizada com oftalmoscópio indireto e lente condensadora, são de relativo difícil manuseio, necessitam de uma capacitação prévia prolongada, possuem uma curva de aprendizagem e dependem do examinador para avaliação. Além disso, não permite, na maioria das vezes, registro fotográfico da retina para posterior discussão com outro profissional.
Como alternativa, há o retinógrafo convencional. Entretanto, tem elevado custo para aquisição. “A captura de imagens da retina é de extrema importância para avaliação com maior precisão e para o acompanhamento da doença e do tratamento. Também exerce papel fundamental na formação de novos profissionais por meio da exposição e discussão dos achados em grupo, permitindo ao estudante e ao médico comparação com seu exame e revisão dos resultados”, pontua.
O retinógrafo portátil Eyer apresenta-se como uma opção extremamente vantajosa em diversos aspectos:
- Facilita a captura de imagens de alta qualidade da retina sem muito treinamento prévio;
- Leve e pequeno (cabe na palma da mão);
- Não depende de mão de obra especializada;
- Preço relativamente mais acessível que o retinógrafo tradicional;
- Não midriático, encurtando o tempo do exame e evitando possíveis efeitos adversos (desconforto visual, fotofobia, ceratite e aumento da pressão intraocular);
- Por meio da telemedicina, envia as imagens para a nuvem, possibilitando o diagnóstico remoto.
Para Gameiro, o Eyer pode ter um impacto significativo na educação médica. “O aparelho pode ser usado pelos estudantes de medicina como uma oportunidade de aprendizado prático, na demonstração de casos clínicos e no acompanhamento da progressão de doenças oculares ao longo do tempo, além de estimular discussões interativas entre alunos e professores, favorecer a realização de projetos de pesquisas e cases e facilitar o acesso e registro de uma ampla variedade de casos”, ressalta.
O equipamento também tem inteligência artificial embarcada, o que pode ser uma opção confiável e de custo efetivo para o rastreio de patologias da retina e do nervo óptico por meio de algoritmos construídos com extensas bases de dados.
“Esses modelos de algoritmos conseguem predizer risco de alteração e, assim, notificar o examinador da necessidade de acompanhamento com especialista mais capacitado. Dessa forma, o uso de IA, em conjunto com deep learning e telemedicina, pode representar uma eficaz solução a longo prazo para o screening e monitoramento de pacientes na atenção primária em saúde”, finaliza.
Sobre o Eyer
Retinógrafo portátil Eyer.
O Eyer é um retinógrafo portátil que funciona acoplado a um smartphone e realiza exames de retina de alta qualidade, em poucos minutos e sem a necessidade de dilatação da pupila.
A tecnologia apoia no diagnóstico de mais de 50 doenças, dentre elas glaucoma, catarata, retinopatia diabética, DMRI, retinoblastoma, retinopatia hipertensiva e toxoplasmose ocular. Atualmente, já foram feitos mais de 10 milhões de exames no Brasil, Estados Unidos, Chile e Colômbia.
A portabilidade e o valor mais acessível da tecnologia democratizam o acesso a exames de retina. Pois ele custa aproximadamente seis vezes menos que um retinógrafo de mesa convencional, que ainda necessita de integração com o computador.
Sobre a Phelcom
A Phelcom Technologies é uma medtech brasileira sediada em São Carlos, interior de São Paulo. A história da empresa começou em 2016, quando três jovens pesquisadores – um físico, um engenheiro eletrônico e um engenheiro de computação (PHysics, ELetronics, COMputing) – criaram um retinógrafo portátil integrado a um smartphone.
O projeto do primeiro protótipo nasceu do interesse do sócio Diego Lencione pela saúde visual, pois seu irmão tem uma condição que comprometeu a retina e a visão de forma severa desde a infância.
Em 2019, a Phelcom lançou no mercado brasileiro o seu primeiro produto: o retinógrafo portátil Eyer. Hoje, a tecnologia já alcançou mais de duas milhões de pessoas em todo o Brasil e nos países em que está presente.
Em quatro anos, a empresa já participou de mais de 100 ações sociais e recentemente foi eleita entre as 10 empresas mais inovadoras do Brasil pela Forbes.