Diversos países estão investigando se a covid-19 potencializa infecções por outros patógenos, como fungos. No Brasil, um trabalho da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) analisou os dois primeiros casos de Candida auris em um hospital de Salvador (BA), em dezembro. Atualmente, já foram confirmados mais nove ocorrências no mesmo hospital.
O “superfungo” desenvolve rapidamente resistência aos principais medicamentos utilizados em seu combate. O relato foi divulgado recentemente no Journal of Fungi.
Já na Índia, cresce cada vez mais o número de pacientes que contraíram mucormicose durante ou após a recuperação do novo coronavírus. A infecção, muito rara, é provocada pelo “fungo negro”.
De acordo com o ministro da Saúde do estado de Maharashtra, Rajesh Tope, pelo menos 90 pessoas morreram e 800 estão hospitalizadas só no estado devido ao problema. Além disso, as autoridades locais também confirmaram aproximadamente dois mil casos confirmados até o momento. A informação foi fornecida para a CNN.
Há também relatos de pacientes que precisaram ter um dos olhos removidos devido ao agravamento da doença. Somente em abril, o oftalmologista Akshay Nair disse em entrevista à BBC ter atendido por volta de 40 pacientes com o problema. Onze deles perderam um dos olhos.
Recentemente, o Brasil também confirmou o primeiro caso da doença relacionado ao novo coronavírus. Há também mais duas suspeitas, em Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.
Em seguida, veja os relatos dos médicos indianos sobre a possibilidade do desenvolvimento de mucormicose em pacientes após covid-19, principalmente nos diabéticos, e como isso afeta os olhos.
Olhos e covid-19: mucormicose após doença
A mucormicose é uma doença rara que afeta o nariz, face, olhos, cérebro e pulmão. É provocada pelo “fungo negro”, muito comum em locais úmidos, como solo plantas, esterco, frutas e vegetais em decomposição e até no nariz e muco de pessoas saudáveis. Porém, quando ataca imunodeprimidos, como pacientes com diabetes, HIV e câncer, pode gerar sequelas e até ser fatal.
De 58 casos da infecção fúngica investigados na Índia, a maior parte contraiu entre 12 e 15 dias após a recuperação da covid-19. É o que demonstra a reportagem da BBC.
Além dessas ocorrências e das divulgadas por Nair, houve mais relatos da doença.
O oftalmologista Raghuraj Hegde também contou à BBC ter atendido 19 casos em duas semanas, sendo na maioria jovens. O Hospital Sion, de Mumbai, comunicou 24 ocorrências em dois meses, quatro vezes mais em comparação com o mesmo período do ano passado.
A maioria portava diabetes e havia sido infectada duas semanas depois da recuperação da covid-19. Desse total, 11 perderam um olho e seis faleceram.
Os médicos acreditam que o problema ocorre devido à queda de imunidade durante o tratamento com esteroides para combater o novo coronavírus em pacientes graves. Outro agravante que pode ser causado pela droga é o aumento do açúcar no sangue, o que piora ainda mais o quadro de diabéticos positivos para covid-19.
Tratamento dos olhos
A opção em retirar um dos olhos – ou até os dois, em alguns casos – é para evitar que o fungo atinja o cérebro. Na maioria desses casos, os pacientes só buscaram ajuda quando já estavam perdendo a visão.
Dentre os sintomas apresentados, estavam sangramento e entupimento do nariz, inchaço e dor nos olhos, pálpebras caídas, visão turva e perda de visão. Além disso, pode ocorrer manchas pretas na pele ao redor do nariz.
A única opção eficaz de tratamento é a aplicação de uma injeção intravenosa antifúngica (anfotericina B) todos os dias, por até oito semanas.
Entretanto, Nair afirma que há como prevenir: aplicar a dose correta de esteroides, seguindo a duração indicada. Depois, é preciso monitorar a possível alta nos níveis de glicose dos pacientes recuperados.
Conclusão
Especialistas do mundo todo estão acompanhando entre olhos e covid-19. Neste sentido, há diversas pesquisas que investigam desde o desenvolvimento de conjuntivite como um dos sintomas até se a doença afeta a retina.
Agora, é fundamental acompanhar a evolução dos casos de mucormicose na Índia e estudar a correlação com a covid-19 e os olhos.
Revisado por Paulo Schor, médico oftalmologista, professor livre docente e diretor de inovação da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e colaborador da Faculdade de Medicina do Hospital Albert Einstein.
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